Na
passada quarta-feira, comemorou-se o quadragésimo aniversário do 25 de
Novembro.
Quarenta
anos sobre uma data em que, após alguns meses em que o país viveu uma quase
anarquia, desgovernado e comandado a leste do muro de Berlim, se começou a
voltar à normalidade democrática.
Quarenta
anos sobre o final do chamado PREC.
Para
muitos de nós, que éramos demasiado jovens para perceber o que se passava, ou
nem sequer éramos nascidos, convém recordar um pouco do que se passou desde o
25 de Abril de 1974 até ao 25 de Novembro de 1975.
Foi
um período em que se assistiu ao esbulho da propriedade privada, com
nacionalizações ou ocupações que, em muitos casos, apenas levaram a falências,
desemprego e diminuição da riqueza nacional, a perseguições que em bastantes
casos culminaram em extradição não promulgada, a buscas e a detenções sem
mandato e até a ameaças de pelotões de fuzilamento.
No
25 de Novembro, os militares moderados conseguiram começar a pôr a casa em
ordem e, para isso, contaram com o apoio dos partidos a quem os portugueses
tinham dado um sinal daquilo que pretendiam para o futuro do seu país nas
primeiras eleições então realizadas.
Portugal
encontrou então o rumo de normalidade, e com as eleições legislativas,
presidenciais e autárquicas que se realizaram a partir de 1976 a democracia
consolidou-se definitivamente.
40
anos depois do 25 de Novembro, entende o Partido Socialista que deixou de haver
motivo para relembrar esta data na casa da democracia portuguesa.
Provavelmente
para não melindrar os seus novos amigos ou, quiçá, por sugestão destes.
Provavelmente
porque para além dos 3 acordos políticos e de outros tantos acordos técnicos
que assinaram e são do conhecimento público, ainda haverá mais uns quantos acordos
secretos para tratar destes e doutros pormenores e que a seu tempo iremos
sabendo.
Mas,
como na casa democracia aveirense ainda não estamos sujeitos aos caprichos das
bancadas da extrema direita, extrema direita relativa à posição física em que
me encontro neste hemiciclo, entende o CDS-PP que o 25 de Novembro de 1975 tem
que ser lembrado hoje, e sempre que for preciso relembrar a alguns partidos o
seu passado.
E,
para terminar, nada melhor do que fazê-lo com uma citação.
“Passou
na última 5ª feira o 35º aniversário do 25 de Novembro de 1975. A maior parte dos leitores
jovens, desta breve crónica, talvez não saiba sequer do que se trata. E, no
entanto, é, na história contemporânea de Portugal, uma data tão importante,
para a afirmação da democracia pluralista, pluripartidária, e civilista, que
hoje temos, como a Revolução dos Cravos.
Não
tenho nenhum gosto de levantar polémicas passadas. Mas a verdade é que a
memória histórica não deve ser esquecida. Sobretudo, quando os responsáveis de
termos estado à beira da guerra civil, o Partido Comunista e a Esquerda radical
- lembremo-nos dos SUVs e do poder popular - nunca fizeram uma autocrítica a
sério do seu comportamento passado, como lhes competia.
Pelo
contrário, continuam a pensar - e às vezes a dizer - que o 25 de Novembro foi
uma contra-Revolução, que impediu que Portugal fosse uma Cuba europeia. Onde
estariam hoje esses responsáveis - e os seus herdeiros - se tivessem ganho?
Seguramente não viveriam tão bem e em paz como hoje, felizmente, vivem.”
Mário Soares, Revista Visão,1
de Dezembro de 2010
Intervenção proferida na Assembleia Municipal de Aveiro em 27 de Novembro de 2015