terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Ainda a ponte



No passado sábado 25 de Fevereiro, no programa da Rádio Terranova “Canal Central” (podcast disponível a partir daqui), voltou a ser motivo de conversa a questão da ponte sobre o Canal Central, nomeadamente a proposta que o Partido Socialista apresentou em reunião de Câmara relativa à classificação daquele canal e que, em boa hora, foi chumbada.
O PS não aceitou as críticas que lhes dirigi no programa, nomeadamente quanto ao facto de os seus Vereadores não serem coerentes nas votações ocorridas ao longo do processo e tentou mostrar, através das declarações de Eduardo Feio, que, a bem da verdade não ouvi tendo tido apenas acesso à notícia publicada no site da Terranova, que nunca se tinham mostrado favoráveis à construção da ponte.
Por esse motivo, parece-me necessário esclarecer com base nos documentos oficiais – actas das reuniões de Câmara – o que se foi passando ao longo de todo o processo.
Como é sabido, a ponte sobre o Canal Central é um projecto que integra um programa mais vasto, que concorreu ao Programa Regeneração Urbana do Plano de Ordenamento do Centro do QREN e que foi aprovado, chamado Parque da Sustentabilidade (PdS).
A primeira deliberação da C.M. de Aveiro relativa a este projecto foi tomada em 5 de Maio de 2009, ainda no mandato anterior, e consta do seguinte:
”Foi deliberado, por unanimidade, abrir Concurso Público para um contrato de prestação de serviços, destinado à elaboração do projecto de CONCEPÇÃO DA PONTE PEDONAL DE LIGAÇÃO ENTRE O ROSSIO E O BAIRRO DO ALBOI, nos termos do disposto no n.º 1 do artigo 220° do Código dos Contratos Públicos, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 18/2008, de 29 de Janeiro, pelo valor de 610,00€ (seiscentos e dez euros), acrescido de IVA à taxa legal em vigor.”
Por unanimidade, todos os Vereadores presentes da reunião de 5 de Maio de 2009 concordaram com a abertura de um Concurso Público para a elaboração do projecto, ou seja, neste momento ninguém se opôs à ponte.
Mais tarde, no início do actual mandato, em 14 de Dezembro de 2009, decide a C.M. de Aveiro o seguinte:
Na sequência do concurso público em epígrafe, aberto por deliberação de Câmara de cinco de Maio passado e de acordo com a Acta do Júri atinente ao Relatório Final de apreciação dos Trabalhos de Concepção, foi deliberado. por maioria, com os votos a favor do Sr. Presidente, e dos Srs. Vereadores Dra. Maria da Luz Nolasco. Eng. Carlos Santos, Dr. Pedro Ferreira, Dra. Ana Neves, Dr. Miguel Fernandes e Dr. José Costa, a abstenção da Sra. Vereadora Dra. Helena Libório e o voto contra do Sr. Vereador Dr. João Sousa, aprovar a seguinte atribuição de prémios de consagração: 1. lugar 5.000,00€ (cinco mil euros), (a deduzir ao valor dos honorários caso venha a ser adjudicado o contrato de prestação de serviços nos termos estabelecidos na Cláusula 18ª. do presente), ao trabalho do concorrente nº 8; 2.° lugar -2.500,00€ (dois mil e quinhentos euros), ao trabalho do concorrente nº 10.
O Sr. Vereador Dr. João Sousa apresentou a seguinte declaração de voto: "Ressalvando a qualidade dos projectos apresentados e o trabalho criterioso do Júri nomeado, voto contra a aprovação do Relatório Final do Júri do Concurso Público para trabalhos de Concepção da Ponte Pedonal de Ligação entre o Rossio e o Bairro do Alboi – Aveiro, por entender que a localização da zuna de implantação da Ponte Pedonal não é a mais adequada.
Ao implantar o equipamento a meio do Canal Central, retira-se aos aveirenses e aos turistas que nos visitam a possibilidade de visualizar de forma livre e sem obstáculos um amplo espelho de água, que de há muito integra a nossa memória colectiva."
Com a aprovação deste ponto da agenda, toda a vereação ficou a conhecer o projecto vencedor. E o que fez o PS ao conhecer a deliberação do Júri? Tomou uma decisão coerente? Só se se puder chamar coerente ao facto do vereador Dr. José Costa ter votado favoravelmente, da Vereadora Dra. Helena Libório se ter abstido e do Vereador Dr. João Sousa ter votado contra!
Mais, o Vereador Dr. João Sousa apresentou uma declaração de voto individual, que, sendo individual, não mereceu a concordância de nenhum dos seus colegas de partido!
A C.M. de Aveiro volta ao assunto na sua reunião de 15 de Abril de 2010, tendo deliberado, uma vez mais por unanimidade, o seguinte:
“... abrir procedimento, por ajuste directo, ao concorrente Powel-Williams Arquitects, para a "Prestação de Serviços de Elaboração do Projecto de Execução da Ponte Pedonal de Ligação entre o Rossio e o Bairro do Alboi", nos termos do disposto na alínea g) do nº 1 do artigo 27º do Código dos Contratos Públicos, pelo valor de 31.342,50€ (trinta e um mil, trezentos e quarenta e dois euros e cinquenta cêntimos) acrescidos de IVA à taxa legal em vigor.”
Os Vereadores do PS presentes na reunião concordaram em que fosse entregue ao gabinete vencedor do concurso a elaboração do projecto da ponte, tendo ficado definido igualmente o valor dos honorários a pagar.
Não parece, mas continuamos ainda a falar da ponte a construir sobre o Canal Central.
O PS, através dos seus representantes, está de acordo com o projecto que ganhou o concurso, e que seja entregue a esse concorrente o projecto definitivo.
Passado pouco mais de um mês, decide a C.M. de Aveiro na sua reunião de 20 de Maio de 2010, o seguinte:
“Na sequência da deliberação da Câmara Municipal do passado dia 15 de Abril, que aprovou a celebração de um contrato de prestação de serviços destinado à elaboração do Projecto de Execução da Ponte Pedonal de Ligação entre o Rossio e o Bairro do Alboi, com a firma POWEL-WILLIAMS ARQUITECTS, e de acordo com a Proposta nº 14/0PGOM/201O, do Departamento de Projectos e Gestão de Obras Municipais, foi deliberado, por maioria com os votos a favor do Sr. Presidente e dos Srs. Vereadores Dra. Maria da Luz, Dr. Pedro Ferreira, Dra. Ana Vitória Neves e Dr. Miguel Soares Fernandes e os votos contra dos Srs. Vereadores Dr. José Costa, Dr. João Sousa e Dr. José Martins, aprovar o estudo prévio da Ponte Pedonal de Ligação entre o Rossio e o Bairro do Alboi.
Os vereadores do PS votaram contra o projecto por entenderem que se trata de uma intervenção que não tem em conta, quer a vivência quotidiana quer a memória do Bairro, altera radicalmente a circulação viária sem a perspectiva de integração num plano de mobilidade, particularmente as vias de acesso à Universidade, e afecta a qualidade de vida dos seus moradores.”
E aqui temos uma vez mais o PS “coerente” com o que tinha votado um mês antes!
Como é possível estar de acordo com a entrega de um projecto a um gabinete, projecto esse que resulta de um concurso público, e, de seguida estar contra o estudo prévio? Que mudanças ocorreram neste curto período de tempo para levar a uma “cambalhota” tão significativa?
Por muito que o PS queira justificar a sua posição contra este projecto, é um facto que as actas da C.M. de Aveiro demonstram que até Abril de 2010, com excepção do voto contra do Vereador Dr. João Sousa, a posição do PS era favorável à construção da ponte sobre o Canal Central.
Pode uma pessoa ou uma instituição mudar de opinião? Certamente que sim. Mas, para que o faça, deve apresentar argumentos sólidos que o justifiquem e, neste caso, o PS de Aveiro não o fez.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

A ponte

Muito água tem corrido pelos canais da Ria desde que se começou a discutir a nova ponte e muita gente adormecida nos últimos anos, acordou agora para dar a sua opinião.
Uns andaram longe da cidade, mesmo estando cá todas as semanas, outros, mesmo estando cá todos os dias, estiverem ausentes ao longo de todo o processo, apenas acordando quando o estaleiro começou a ser instalado.
Ao verificar o que eu tinha escrito sobre o assunto, reparei nesta publicação que cumpre amanhã, precisamente, 2 anos.
2 anos que me serviram para pensar maduramente neste assunto e manter a convicção sobre o que então escrevi.
Sou favorável à construção da ponte.
Compreendo que haja que não pense como eu e que haja opiniões contrárias, motivadas por critérios estéticos, de planeamento ou de mobilidade, ou mesmo por apenas gostam de ser do contra.
No entanto, tomos estamos conscientes de que muita coisa mudou nestes 2 anos, sobretudo na situação económica em que nos encontramos.
Por esse motivo, e apesar do custo efectivo para o Município de Aveiro ser muito reduzido - desde que o orçamento seja cumprido, o que, em obra pública, normalmente não acontece - a questão que deve ser muito bem ponderada é a gestão dos escassos recursos financeiros disponíveis.
Não passou ainda muito tempo desde que, e com o País em estado de pré-declaração de falência, alguém queria à viva força construir o TGV, utilizando exactamente o mesmo argumento: há fundos comunitários que pagam a maior parte do custo da obra,e por isso mesmo, deveremos avançar com ela a toda a velocidade.
O resto da história é conhecida, houve eleições e esse "visionário" que a elas concorreu, acabou por ganhar o direito a ir estudar para Paris, podendo assim usufruir de uma fantástica rede de TGV's ao pé de casa!
Por isso e tendo este exemplo ainda tão vivo na memória, volto a referir que a ponderação muito cuidada de todos os investimentos, mesmo que beneficiem de grandes comparticipações, deve ser a prioridade da Câmara Municipal, sob pena de, em próximas eleições, poder vir a ter o mesmo fim de que o personagem que acima referi.